A VIGÊNCIA DA ESCOLA CUBANA DE POLÍTICAS CULTURAIS NA AMÉRICA LATINA*

Por Juanyto.Latino
Os pesquisadores em políticas culturais já cansaram do relato sobre a história do primeiro ministério de cultura do mundo que, de acordo com a teoria, foi criado na França em 1959. Outro mito da nossa área é que os Estados Unidos, sem ministério de cultura, nem ingerência governamental nos negócios privados, conseguiram atingir a indústria cultural mais próspera do mundo (GARCÍA CANCLINI, 2004). No entanto, voltando a nossa atenção aos países latino-americanos, quantas vezes ouvimos falar do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica, criado também em 1959? Ou do fato de que, durante décadas, a única Constituição do mundo que registrou expressamente o direito à cultura, em sua extensão e profundidade, foi a cubana? Em síntese, o quanto ainda (des)conhecemos sobre as experiências e práticas intelectuais da escola cubana de políticas culturais?
Tradicionalmente, os estudiosos das políticas públicas de cultura se dividem em duas escolas. Por um lado, a escola estadunidense propõe que o mercado capitalista, através da “mão invisível” das empresas privadas, seja o principal responsável pelo incentivo e promoção das atividades artísticas e culturais que a “sociedade civil”, de forma aparentemente livre e espontânea, deseja fruir e consumir. Por outro, a escola francesa se destaca como paradigma da intervenção estatal no intuito de promover uma democratização da cultura. Partindo de uma determinação histórica e canônica

das belas artes pela elite de turno, suas políticas visam “levar a cultura” para o resto dos cidadãos, junto com determinados padrões de comportamento sobre o fazer cultural nas civilizações modernas.

 Contudo, existe uma falsa oposição entre estas escolas, criando uma rivalidade entre Estado e Mercado, quando na verdade ambas são completamente funcionais ao sistema capitalista e aos paradigmas centrais do establishment acadêmico mundial. Sendo assim, questionamos: é possível pensar em uma corrente alternativa que não pertença ao eixo norte de produção do conhecimento e que também se nutra de experiências não capitalistas de gestão e produção cultural? Três pesquisadores latino-americanos da área, Martin Cezar Feijó, Néstor García Canclini e Teixeira Coelho – com fundamentações ideológicas muito diferentes entre si –, não duvidaram em registrar, nos anos 1980, que a escola cubana expressa um paradigma diferencial e muito importante no campo das políticas culturais. De acordo com a perspectiva histórica de Feijó (1983), Rússia e Cuba representam, junto com China, os momentos onde mais explícita foi a relação entre Estado e as produções artísticas e culturais. Para o autor, o propósito das três grandes revoluções socialistas do século XX – que aconteceram nestes países – foi atingir uma coerência e, no pior dos casos, uma submissão da arte e da cultura ao partido e às políticas estatais. Em oposição a esse modelo, os países ocidentais ofereciam, durante a guerra fria, a possibilidade de vivenciar uma sociedade civil teoricamente livre e autônoma do poder político. Contudo, nestas civilizações modernas, os artistas e produtores culturais tinham que ser coerentes, ou ainda, submissos ao poder econômico do mercado capitalista. Neste contexto, o conjunto organizado de intervenções realizadas pela revolução cubana no campo da cultura foi elogiado até por seus críticos e dissidentes, pelo menos até o final dos anos 1980.

O diferencial da escola cubana de políticas culturais foi trabalhar suas ações e definições programáticas neste campo de forma transversal e sistêmica. Ao invés de exaltar, de forma setorial, o protagonismo de um Ministério ou Ministro de Cultura, como foi o caso francês, a revolução buscou investir no desenvolvimento humano dos habitantes da ilha de forma integral. Isto é, trabalhar a cultura em conjunto com saúde e educação, formando três pilares de uma proposta civilizatória, cujos resultados são acompanhados, desde 1961, por um Conselho Nacional de Cultura. Não surpreende, portanto, a afirmação de García Canclini (1983) de que o principal escopo de uma política popular na área da cultura é promover uma progressiva democratização dos meios, das instituições e das linguagens artísticas, através das quais a comunicação social é realizada e a consciência crítica do povo é cotidianamente estruturada. Assim sendo, o objetivo final da política cultural é reorganizar as relações entre significado e poder, com uma deliberada orientação socialista. Para o pesquisador, falhas e equívocos da revolução cubana – e de outras experiências no continente – não diminuem a legitimidade ética e política da construção socialista em política pública de cultura, que reconheceram as organizações populares como principais protagonistas.

Finalmente, Teixeira Coelho (1986) registra em seu livro sobre os usos da cultura que o modelo cubano das casas populares de cultura, criadas em 1961 e organizadas em sistemas de cultura totalmente capilarizados nas centenas de municípios da ilha, deveria ser um exemplo a ser seguido pelo Estado de São Paulo na sua época. Em visita a esse país caribenho, em 1985, Coelho constatou que cada um dos municípios de Cuba tinha nove instituições culturais básicas: além das Casas de Cultura, o sistema de cultura completo incluía uma galeria de artes plásticas, uma biblioteca municipal, um cinema, um museu, uma loja de bens culturais, uma livraria, um coro de vozes, um teatro e

uma orquestra musical. Nos anos 1980, era uma utopia pensar nessa quantidade de equipamentos culturais para cada uma das localidades paulistas. Mas passados 30 anos, qual é a realidade atual dos mais de 600 municípios do Estado de São Paulo neste quesito? Isso sem falar da ausência de equipamentos culturais básicos nas mais de seis mil cidades brasileiras.

Sem dúvidas, muitas coisas aconteceram no mundo e no campo específico dos estudos em políticas culturais desde os anos 1980. Contudo, resulta pertinente indagar a vigência das práticas e objetivos não capitalistas da escola cubana de políticas culturais no Brasil contemporâneo e no resto dos países latino-americanos e caribenhos. No caso específico das universidades brasileiras, uma parte importante dos saberes e conhecimentos produzidos nos territórios profundos do nosso continente continuam sendo periféricos e, muitas vezes, propositalmente invisibilizados. A longa tradição e trajetória das instituições e políticas culturais em Cuba – no mínimo tão antigas quanto as francesas – nos instiga a aprofundar reflexões atuais sobre o quanto podemos aprender, com erros e acertos

registrados historicamente, deste outro paradigma de estudos para a nossa área.

REFERÊNCIAS

FEIJÓ, Martin Cezar. O que é política cultural. Coleção primeiros passos nº 107. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1983.

GARCÍA CANCLINI, Néstor. ¿La mejor política cultural es la que no existe? In: Revista Telos – Cuadernos de comunicación e innovación, Madrid, Nº 59, 2004.
_______________________. Políticas culturais na América Latina. In: Novos Estudos
Cebrap, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 39-51, jul. 1983. Trad. Wanda Caldeira Brant.
TEIXEIRA COELHO, José. Usos da cultura: políticas de ação cultural. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
casa-de-las-americas-cuba

Capa livro Casa de las Américas 1959-2009. Design de Pepe Menéndez, 2011.

 *publicado originalmente no BOLETIM ODC #61 Políticas culturais, financiamento, gestão cultural e diversidade cultural. SETEMBRO 2016. Disponível em: http://observatoriodadiversidade.org.br/site/wp-content/uploads/2016/09/ODC_BOLETIM_2016_09.pdf

Pachanga FIESTA! Sáb 29/out, 18h, residência universitária da UFBA

Fim de semestre chega com a PACHANGA FIESTA!
Mais uma produção do coletivo PachaMãe.
Este sábado 29/out, 18h, na residência universitária da UFBA.
Participação superespecial da banda colombiana Som de Cumbia!
Ingresso: pague quanto puder!

 

flyer-de-divulgacao-pachanga-tamanho-maior

Sobre o dia dos mortos: é uma celebração de origem mexicana que ocorre todo dia dois de novembro. Os festejos começam a ser preparados desde o dia 31 de outubro, o que faz com que o período coincida com algumas datas tradicionais católicas como o Dia de Todos os Santos e o Dia dos Fiéis Defuntos. Mas o Dia dos Mortos não ocorre somente em território mexicano. A data é celebrada em diversas nações em que existe grande presença da população deste país. Um exemplo são os Estados Unidos e algumas outras regiões da América Central. Para se ter uma ideia da importância da data, ela é considerada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura) como um dos Patrimônios da Humanidade.

 

HUMANO, DEMASIADO HUMANO!

humano

Assista o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=Gj7PqvY-t6g

     Cassieldante

     Human (Humano, uma viagem pela vida, na tradução ao português) é dirigido pelo fotógrafo e ativista ambiental Yann Arthus-Bertrand. Teve um lançamento prévio na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2015, o que já faz dele um filme interessante. Mas isso é apenas um detalhe, porque na verdade, mas que interessante, este documentário é necessário.

Ele é uma obra de arte que depurou o melhor das mas de 2000 entrevistas que fez o diretor em 63 países, a diferente tipo de pessoas: refugiados, indígenas, africanos, camponeses, um condenado à pena de morte, e até o grande Mujica aparece. Pessoas de diferentes idades, de diferentes condições sociais, culturais; todas elas falando de uma maneira honesta y profunda sobre o amor, a felicidade, suas experiências de vida. Estes depoimentos estão capturados em um clous up onde o espectador se vê encarado, olho no olho, e alma na alma, por todas estas pessoas.

O filme é realmente um soco no estomago. Com a simplicidade e honestidade de estas pessoas é impossível não ter uma catarse e refletir como os humanos esquecemos o verdadeiro sentido da vida, da felicidade; como na procura do dinheiro, do banal e supérfluo, perdemos o valor das simples coisas, que são as realmente essenciais, como afirmam alguns dos entrevistados: o sol, a chuva, ter uma casa onde se proteger, uma cama decente onde dormir, comida todos os dias, eletricidade, as pessoas amadas…

Todos estes depoimentos viscerais se complementam tanto na estética visual, como no conteúdo filosófico, ontológico, com as incríveis imagens que apresenta. Elas nos conduzem ao mais belo do nosso mundo: as aves migratórias vistas desde o espaço, o mar com tempestade, desertos, montanha, cataratas, etc.; como também ao mais sinistro e perverso: os enormes lixões que existem e a terrível economia que existe ao seu redor, por exemplo. O filme é de uma poesia visual comovedora.

Digo que é um filme necessário porque nestes momentos de ódios infundados, de brigas políticas, de manipulação midiática, de consumo irracional, de violência global, ele nos revela quão absurdas e vergonhosas são todas estás coisas às quais o ser humano dedica a maior parte do seu tempo e energia; porém, também nos revela que não tudo está perdido, que o amor, a alegria e a vida se resistem contra a morte, e que é nisso que devemos investir, trabalhar e perseverar.

Há Violência no Silêncio?

14448847_1796122420664304_6420629264671191834_n

Informações da peça:

Há Violência no Silêncio?

Partilha de fragilidades e superpoderes. Ações insistentes. Transbordar a carne. Atmosferas íntimas. Degustar lentamente. Cada pedaço com seu tempero específico. Entre o sorriso e a luta estamos todos nós

O público, mais participante que espectador, é convidado a degustar/desfrutar bebidas diversas em meio de cenas lúdicas e dramáticas.

“É, nos menores gestos de violência que nos acomodamos, nos silenciamos e silenciamos os outros. A grande violência por muitas vezes está em nós, com os outros e conosco. Um corpo agredido, agressivo, exausto das miudezas do cotidiano, da nossa guerra particular, tão pública, tão visível. Pêndulos e círculos inesgotáveis!
Um brinde quente, se resolvemos ficar ou partir, seja pra onde for.”

Direção: Nirlyn Seijas
Assistência de direção: Thiago Cohen
Performers: Ana Brandão, Brisa Morena, Daniela Silva Lisboa, Flora Rocha, Nefertiti Charlene, Nirlyn Seijas e Thais Gouveia
Design Visual: Naiara Rezende

*Quintas: 6, 13, 20 e 27 de Outubro
3,10 de Novembro

19:30 no Casarão Barabadá
ingressos: R$ 25,00

https://pt-br.fievent.com/e/ha-violencia-no-silencio/4338908

Porque assistir:

No centro histórico de Santo Antônio Além do Carmo, a noite a rua se torna o ponto de encontro dos boêmios. Com a luz da lua e o aconchego do lugar o casarão Barabadá abre suas portas para apresentar a peça teatral: Há violência no silêncio? Feita por só mulheres. A casa antiga transmite sua história, lembranças de força, união, luta, revelação de todas as mulheres que ocuparam este espaço no decorrer do tempo. Passado, presente e futuro se reúnem para se manifestar no transcurso da peça. Com a energia da casa, a dança, a música, o contato com os corpos, o movimento entre espaços, a diversidade de sentimentos, pensamentos, mostram como o silêncio libera seus ecos de expressão para expor todo aquilo que não quer ser escutado. A violência se torna o ponto chave do silêncio, questionando quanto ainda devemos mudar para quebrar com as barreiras que obstaculizam as palavras.

Realmente vale a pena vivenciar essa experiência e cada um tirar a suas próprias reflexões.

VIVA MÉXICO, CABRONES! (Parte III)

     CASSIELDANTE

3

     El bar tiene onda. La decoración, con carteles de películas clásicas, discos, libros y cosas viejas, me gustó de entrada. Era viernes por la noche y estaba a reventar cuando llegamos. Rose me dijo que la comida era muy buena y la cerveza estúpidamente gelada. Comentó también que Mercearia era frecuentado por artistas, estudiantes y un público alternativo que buscaba buena música, un ambiente bacano y precios justos.

rose-mercearia

Rose no encontraba a sus amigos, había mucha gente. Todo el mundo eufórico, queriendo beber, comer y hablar como loros mojados. Soltar todo el rollo acumulado a lo largo de la semana. Lo digo porque a mí también me pasa. Uno acumula y acumula mierda hasta que un día simplemente quieres reunirte con tu parche y explotar: beber, fumar, tirar, extrapolar. Es hasta terapéutico. Mejor hacerlo así que acumular y no soltar nada, hasta que terminas desquitándote con los más vulnerables, liberando con ellos todo lo que te hacen a ti. Así se repiten los círculos de violencia y dominio. Mejor liberarse con la fiesta, la risa, el sexo. En fin, entre carcajadas, gritos y choque de vasos, Rose encontró a sus amigos.

Todos eran cuarentones pero bien conservados, luciendo una actitud un poco afectada, como de alegría exagerada, como si intentaran verse más cool de lo que realmente son. Bueno, no sé. Esa fue mi primera impresión y casi nadie me cae bien al inicio, qué sé yo… La mesa estaba compuesta por Una que lucía una blusa blanca, aparentemente de seda e intencionalmente escotada. Bebía y reía echándose para atrás y después para adelante, meneando las tetas, mientras conversaba con Uno ya también veterano, pero con actitud juvenil y relajada, también exagerada.

Al lado de éste había Otro más interesante. Con un suéter azul claro que hacía tono con sus ojos. Ojos entre azul y verde, con pestañas largas y empinadas, pero con mirada de loco. Se me pareció a Alex De Large, protagonista de La naranja mecánica. Tenía además una cosa andrógina. Por eso, para mamar gallo con Rose, lo bautizamos el Travesti. Este bebía y hablaba compulsivamente, como la mayoría de los que estaban alrededor. Había otra mujer sentada al lado de Rose y rápidamente observé la semejanza entre las dos. La Otra parecía una copia de mi amiga: gestos y movimientos parecidos, forma de vestir similar, aire de diva. Pero copia es copia, simulacro al fin de cuentas. Deduje que se trataba de la nueva compañera del ex de Rose, lo que se comprobó al rato cuando apareció la figura: el Rodo.

Mi amiga me había hablado bastante del Rodo, me decía que cuando fuera a São Paulo tenía que conocerlo, que seguramente nos haríamos amigos. Yo le preguntaba que por qué y ella me decía que nos parecíamos, que a los dos nos gustaba beber hasta la última gota y hablar como desesperados. Por eso yo tenía curiosidad, quería ver si era verdad. Sin embargo, cuando apareció no quiso beber, dijo que se iba temprano, que al otro día tenía que hacer cosas y blablablablá. Yo creo que ver a su ex y a su copia unidas, lado a lado, tal vez lo ponía nervioso. Yo qué sé, el caso es que estuvo muy contenido, amable, alegre, pero sin exponerse demasiado. A veces yo también hago eso. Quizá sí nos parezcamos…

O cara arranjou uma igualzinha a você, né Rose!”, le dije más tarde. “Pois é velho, ela parece comigo, né? kkkkk”. “Parece mesmo, mas acho que ela quer imitar você kkkkk”.

El cuadro se completaba con Giba. “Você precisa conhecer o Giba”, me dijo Rose mientras comíamos un delicioso sándwich de pernil con abundante cerveza. Sólo que Giba no paraba en la mesa. Era un tipo delgado, moreno, con el pelo a ras, y parecía que tuviera hormigas en el culo. No se podía estar quieto. Se sentaba, se paraba, salía, pedía un cigarrillo. Hablaba entrecortado, como si las palabras quisieran salir todas a la vez y él las intentara infructuosamente organizar. Yo pensé que estaba empericado o con algo raro. Pero cada vez que aparecía, Rose volvía a decir: “Você tem que conhecer ese cara”.

A esas alturas ya se me había pasado el efecto del porro y como no conocía bien al combo, me limitaba a observar y participar tímidamente de algunas conversaciones. La verdad me aburría un poco. Por eso me entusiasmó la propuesta de Giba, que Rose tradujo, de ir a su apartamento a fumar uno y seguirla allá. Giba quería además tocar la guitarra y cantarnos unas canciones. La idea fue secundada por el Travesti y por un Japa gordito, que apareció después y que según Rose estaba metido en rollos de teatro o algo así.

Cuando salimos de Mercearia llovía, por lo tanto, aunque la casa de Giba, según dijeron, estuviera cerca, nos fuimos corriendo al carro de Rose y al de Travesti (que no es travesti, advierto, para evitar malos entendidos) para llegar más rápido y no mojarnos. Efectivamente el apartamento estaba cerca. Un lugar muy impersonal pero agradable.

Armaron un porrito, abrieron un vino y después todo cambió. Las sonrisas se abrieron, los cuerpos se relajaron y los ojos brillaron. Giba agarró la guitarra y comenzó a tocar y cantar. En ese momento entendí por qué Rose me insistía tanto en que tenía que conocerlo. Todo lo que no podía expresar con palabras, en el discurso oral, Giba lo expresaba, y con creces, a través de la música. “O Giba é música Rose. Ele é muito bom”, le dije a mi amiga, con una alegría y admiración espontáneas. “Eu te disse cara. Ele é demaissss”, respondió ella con esos ojos achinados por la bareta y esa sonrisa picara de quien se tiene confianza y sabe que es verdad lo que dice.

Giba cantó con amor, dolor y, sobre todo, pasión. Yo quería abrazarlo y contagiarme de esa energía tan hijueputa que brotaba de él. Así lo hice, al igual que Rose. Los tres nos abrazamos. Fue una conexión energética, que va más allá de las palabras. En esos momentos vi que Giba era como un niño grande, hiperactivo, pero inocente y profundamente sensible y supe todo eso gracias a la música. ¡Giba es música!

giba

Cerca de la madrugada salimos de su apartamento. Íbamos chapetos, como dicen en mi tierra, felices, recargados de energía. Llegamos a la casa de Rose y arrivederci, hasta la vista beibe.

Nos despertamos como a medio día. Era sábado y hacía un clima de mierda. Seguía lloviendo, así que aprovechamos para descansar y hablar de la noche anterior. Recordar, criticar y cagarnos de la risa. En la tarde salimos a pasear por la ciudad. Fuimos al parque Ibirapuera

 

parque-ibirapuara

Comenzamos a andar sin rumbo fijo, como en París, haciendo lo mejor que sabemos: hablar mierda, pelearnos por la palabra; dejar fluir la conversación, intercalando películas, libros, viajes, chismes, burlas, críticas acidas, recuerdos, en fin, embriagarnos con el discreto encanto de la palabra. Plan tranquis, para curar la cruda, como dicen en México. Paciencia caro lector, un día llegaremos allá, por ahora sigamos en este sábado lluvioso en São Paulo.

Después fuimos a ver un montaje teatral. Algo sencillo pero interesante. Comimos algo y a descansar. El clima frío y lluvioso continuó el domingo. Rose me dijo que quería que conociera a un amigo que trabajaba con cine y que era un tipo interesante. El plan era encontrarnos con él en la Avenida Paulista, pasear un poco, tomar algo y almorzar. Cuando André llegó estaba lloviendo, así que lo de pasear se estaba complicando. Rose hizo las debidas presentaciones. Me cayó muy bien. Es un hombre de estatura media, blanco, cuarentón, con pinta de paulista. Un tipo sencillo y agradable. Encontramos una feria popular, con cervezas artesanales y diversos tipos de comidas. Me encantan estas ferias, se come y se bebe bien y a un buen precio. Pedimos unas cervezas y picamos algo.

André nos comentó que trabajaba principalmente con documental y con montaje. Me llamó mucho la atención, pues me encanta el cine y es muy bueno hablar con alguien que conozca un poco más de este mundo. La lluvia no permitió que disfrutáramos mucho del espacio abierto, así que tuvimos que ir a protegernos. Nos fumamos un porrito, lo que le puso un toque de alegría y encanto a esa tarde gris. André nos contó también que trabajaba con lectura del tarot. Como a Rose este tema le interesa mucho, incluso en París hizo un taller con Jodorowsky (o el hijo, no me acuerdo), los tres nos enganchamos a hablar del asunto. Como yo no sé casi nada al respecto, mis intervenciones fueron más para preguntar y comentar.

André dijo que el tarot era un mundo bastante complejo, que podía revelar verdades y conocimientos profundos del ser humano. Afirmó que su lectura representaba la jornada del héroe y me mostró una carta con una figura masculina. Eso fue curioso porque justamente ese tema me viene acompañando desde hace un buena rato, ya que me remite a la Odisea de Homero (y la de Joyce también), a Ulises como ese primer gran héroe de la literatura occidental que tiene y quiere volver a su hogar, pero debe pasar por unas pruebas las hijueputas para conseguirlo. Inclusive desciende al Hades y vuelve con vida para contarlo. Porque eso es lo heroico: volver con vida para contar la historia, para revelar un conocimiento. Si muere durante la jornada no es un héroe sino un mártir. Bueno, eso no lo digo yo, creo que es de Campbell. Pero lo que yo sí pienso es que cada día encaro más la vida en general y la mía en particular así. Todos tenemos que cumplir una jornada para volver a casa y no sucumbir en el camino. Y en este jodido mundo esa jornada a veces se hace una mierda y para no morir hay que tener cuatro huevas o cuatro ovarios. No es fácil. Pero también se trata de cómo se encare esa jornada, si es para llorar y quejarse o para levantarse de los golpes, limpiarse con babas las heridas y seguir luchando. Pero, pero, y hago énfasis en esto, intentando hacer ese camino más agradable, con la espada del humor, de la risa, de la ironía, del sarcasmo, romper el miedo y disfrutar el presente, imponiendo y celebrando la vida sobre la muerte. Pues así pienso yo, no sé…

A pesar de mi escepticismo constante, lo que decía André tenía sentido. Nos dio hambre y comenzamos a decidir a dónde ir. Con esos dos paulistas yo me limité a escuchar y escoger el lugar que me pareciera más atractivo. André sugirió algunos, entre ellos uno de comida peruana, que según él era sencillo, popular, la comida bien rica y barata. Pues para mí eso ya fue suficiente. Ellos estuvieron de acuerdo y listo, nos fuimos pa´llá.

Llegamos al restaurante y cuando vimos el nombre oh sorpresa: “Restaurante Pachamama”. Aquí está la foto para que no digan que estoy diciendo mentiras:

 

restaurante-pachamama

Con Rose nos cagamos de la risa: “Olha só velhoooo, e a gente falando do tarot. Tá vendo, nada é por acaso!” “Pois é Rose, embora tirar foto”.

Rose y yo le hablamos a André un poco del proyecto Pachamãe. A él le pareció súper interesante y quedamos en conversar más al respecto. Nos sentamos en una pequeña mesa que estaba desocupada. Efectivamente el restaurante era de comida peruana hecha por peruanos. Vimos el menú y todo parecía muy bueno. Ordenamos sopita (me encantan las sopas), no me acuerdo ahora el nombre y un ceviche. Mientras venía la comida retomamos nuestra charla sobre el tarot. André sacó las cartas y dijo que la mejor forma de conocer más sobre él era jugándolo. Yo le dije que claro, que de una. Pero le pedí que me hablara un poco de las cartas. Fue seleccionando y diciendo lo que cada una representaba. Rose iba enriqueciendo las explicaciones de André, y yo hacía asociaciones con los arquetipos de Jung, la semiótica y otras limitadas herramientas que tengo para tratar de entender lo que escuchaba. Les dije entonces que por lo que decían el tarot era como una especie de conjunto simbólico, conformado por arquetipos que tienen cargas míticas y semánticas muy antiguas, fuertes y representativas. Qué sé yo, era lo que se me venía a la cabeza. No voy repetir la explicación de cada carta porque esto se haría más largo y el que tenga interés que averigüe.

André ordenó la baraja, la revolvió, la puso encima de la mesa, me dijo que la cortara, que abriera el maso y escogiera una carta.